Perspectivas, reflexões e desafios da mulher profissional
Artigo de autoria da Procuradora-Geral de Contas do Ministério Público de Contas do Estado de Goiás (MPC/GO), Maisa de Castro Sousa Barbosa, publicado durante o Mês das Mulheres CNPGC
A presença feminina no mercado de trabalho começou a se intensificar a partir da segunda metade do século XX quando, então, abriu terreno para a discussão da carreira das mulheres em posições de chefia e de mais elevadas complexidades. Antes disso, as mulheres eram, formal ou informalmente, excluídas das ocupações gerenciais e profissionais. As mulheres, nas indústrias, eram admitidas caso fosse necessária alguma característica física para realização das atividades, como por exemplo, dedos finos e menores. No caso das grandes estruturas burocráticas, como instituições públicas e bancos, elas eram excluídas em decorrência de dogmas e regras formais, tais como: as mulheres sairiam do emprego, após se casarem.
Inúmeras foram as barreiras ultrapassadas pelas mulheres para alcançarem o estágio em que se encontram no mercado de trabalho.
Do século XIX ao século XXI, a maior participação da mulher na força de trabalho no Brasil e as mudanças na legislação do trabalho contribuíram para que este público construísse carreiras. Com base na Constituição Federal, a legislação evoluiu, de 1824 a 1988, contemplando o trabalho feminino, com atenção à maternidade e ao recém-nascido. Entretanto, apesar dos avanços, ainda há muito por se fazer em termos da ampliação da representatividade feminina no mercado de trabalho.
As reflexões sobre o tema podem se ramificar por diversas frentes: a jornada de trabalho que, por vezes, exaure as suas condições físicas e reduz sua capacidade de atender as demandas da família; a adequação da legislação trabalhista que veio a favorecer a construção de uma carreira profissional para as mulheres; a flexibilização do trabalho cuja discussão segue em torno de que o modelo flexível é ideal para quem tem que conciliar papéis de profissional e de mãe, especialmente; etc.
No que se refere ao espaço ocupado pelas profissionais do sexo feminino nas instituições públicas, e fazendo parte destas as instituições responsáveis pelo Controle Externo, os desafios enfrentados não diferem daqueles das organizações privadas. Isto porque as causas para esta situação possuem raízes históricas, sociais e psicológicas. No ambiente do Controle Externo, apesar do concurso público ser a porta de entrada, poucas são as mulheres que ascendem a um cargo estratégico.
Atualmente, além de maior escolaridade e competência técnica, as mulheres veem-se diante do desafio de compensar os estereótipos de fragilidade e as barreiras à ascensão, tangíveis e intangíveis, ao buscarem ocupar posições mais estratégicas nas organizações. Ao resistirem aos paradigmas hegemônicos de liderança e gestão, incorporando políticas e práticas mais humanas e empáticas, dão espaço às revoluções comportamentais almejadas pela sociedade contemporânea, aportando novos sentidos ao trabalho, à gestão e à liderança.
Sabe-se ser fato que a diversidade constitui valor e fator irrefutáveis de inovação, criação e humanização dos espaços de convivência e trabalho. A mudança de mentalidade, igualmente, não pode limitar-se à imposição da lei, pelo contrário, deve avançar por meio da difusão de valores e da educação.
Não constitui tarefa simples efetuar mudanças desta magnitude, mas possível realizá-la com vontade e políticas inclusivas.
Desta feita, cabe aos MPC’s reconhecerem que uma agenda para a mudança, inspirada em valores mais solidários que competitivos, é relevante na construção de uma cidadania mais inclusiva e participativa.
As mulheres tiveram papel decisivo nas transformações políticas, sociais, econômicas e comportamentais que modelaram a luta por direitos e modos de relação. No contexto contemporâneo de transição, uma vez mais, se fazem indispensáveis novos estilos de poder, liderança e gestão, mais femininos, humanos e inclusivos. Assim, deve estar na pauta dos MPC’s, bem como das instituições públicas de modo geral, esta agenda civilizatória da humanidade.
Como exemplo de uma agenda inspirada em valores mais solidários e inclusivos, pode-se citar o GAEPE – Gabinete de Articulação para a Efetividade da Política da Educação no Brasil – uma instância de diálogo e cooperação entre atores do setor público e sociedade civil envolvidos na política pública educacional, com o objetivo de fomentar maior interlocução entre essas instituições. Neste projeto, coaduna-se visões e argumentos masculinos e femininos, cria-se um espaço para construção de relações interpessoais e interação, com o objetivo de se dialogar sobre o ambiente educacional e a escola, não apenas na dimensão do aprendizado formal, mas também como componente relevante no papel a oferecer possibilidades de convívio em que meninos e meninas venham a ter os mesmos direitos e deveres e que sejam vistos de uma maneira global e não apenas de forma biológica.
Parabéns a todas as mulheres que, de algum modo, contribuem para o estabelecimento de uma nova ordem global, uma ordem mais equilibrada, justa e de oportunidades para todos.